sexta-feira, 8 de junho de 2012

ARTES VISUAIS


Projeto
O grafite dentro e fora da escola
Objetivos 
- Debater sobre as manifestações artísticas em espaços não-convencionais.
- Experimentar o caráter transgressor da arte.
- Conhecer e debater sobre as relações entre a arte e a política.

Conteúdos
- Relações entre a arte e a política.
- O grafite como expressão poética e política.

Anos 
6º ao 9º ano

Tempo estimado 
Oito aulas

Material necessário 
- para as apreciações e aulas expositivas de contextualização - imagens pesquisadas na internet para serem utilizadas durante todo o projeto (podem estar em Power Point ou serem impressas e coladas em cartões para serem manuseadas pelos alunos) e textos de apoio para os alunos (veja sugestões abaixo).
- para o mural, fanzine ou jornal- material gráfico e cópias para tiragem e circulação junto à comunidade.
- para o grafite - tintas para parede de várias cores, rolos, pincéis e trinchas, esponjas, papéis diversos para colagem, pratos e potes para colocar as tintas e para limpeza do material. 
- para a realização de estêncil - plástico de capa transparente e caneta de retroprojetor para fazer o desenho, estiletes para cortar o estêncil, e fita crepe para fixar o estêncil na parede. 
- Para a proposta de ampliar o projeto coletivo na parede - plástico transparente e caneta de retroprojetor para realização do projeto e retroprojetor para o projetar o desenho na parede.

Desenvolvimento 
1ª etapa
Inicie o projeto debatendo sobre as diferenças entre o grafite, a pichação e a “pichação". Há uma diferença entre estas duas últimas manifestações, que não se restringe ao modo de grafar as palavras.

Uma quantidade significativa de alunos terá argumentos para diferenciar o grafite, a pichação e o picho. Pode ser um bom caminho escrever estas três palavras no quadro e perguntar: “Qual mais aparece na cidade?” Discutir sobre o lugar em que aparecem também, pois o grafite e a pichação são feitos normalmente em paredes e muros, estão mais próximos de nosso ponto de vista. A pichação manifesta de modo mais incisivo a demarcação de território, ocupação, e este pode ser um dos motivos de serem feitos em locais que nos leva a questionar: “Como os pichadores chegam ao topo dos prédios, em lugares improváveis de viadutos e pontes?” Como verdadeiros alpinistas, picham em paredes e vidros, portas e postes.
Tematizar a atitude é fundamental para evidenciar a diferença. Não há dúvida que as três manifestações tenham carga de transgressão. Consideradas como articulação entre arte e política para aqueles que as realizam, o mesmo não se pode dizer a respeito das instituições e do público, que muitas vezes questionam suas atitudes, considerando-as depredatórias, além de provocar poluição visual.
As pichações, que surgem historicamente como espaço de expressão de ideias políticas, lança mão da linguagem verbal, são frases ou palavras de ordem. Podem também ser frases poéticas ou declarações de amor e amizade. O picho expressa o espaço em disputa, e as palavras ou frases utilizadas são grafismos indecifráveis para as pessoas que não fazem parte do grupo (como o Grupo Pichação, de São Paulo. O grafite tem caráter transgressor pela vontade de levar a arte para fora dos muros da instituição (como Alex Valauri, o pai do grafite no Brasil). A maioria dos grafites explora a linguagem visual, mas podem também trazer com frases ou palavras trabalhadas plasticamente com formas e cores.
Segundo Moacir dos Anjos, curador da 29ª Bienal de São Paulo, “... a ‘pichação’, ou simplesmente o pixo, com 'x' mesmo, grafia usada por seus praticantes para diferenciar o que fazem hoje em São Paulo das pichações político-partidárias, religiosas, musicais, ou mesmo ligadas à propaganda que há vários anos enchem os muros e paredes da cidade, a despeito do quão 'limpa' ela queira apresentar-se. E queremos incluí-lo porque achamos que o pixo borra e questiona os limites usuais que separam o que é arte e o que é política”, em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/720657-pixo-questiona-limites-que-separam-arte-e-politica-diz-curador-da-bienal-de-sp.shtml
A proposta é que esse projeto didático ganhe um caráter político, uma vez que vamos dar voz aos alunos, além de dar espaço para que atuem com expressividade.
Quando se fala em pichação, todas as pessoas que moram em grandes centros urbanos podem ter voz. Os muros e paredes das ruas e viadutos, prédios e fachadas de casas são alvos da vontade de alguém se apropriar da cidade. Por esta razão, todas as pessoas que moram na rua, no bairro e na cidade estão dentro do debate – mas estando na escola, podemos torná-lo mais organizado e recheado de informações.
Como o assunto é polêmico e envolve diferentes pontos de vista, é propício levar a proposta para uma dimensão política. Citando novamente Moacir dos Anjos, “Lembro que política é aqui entendida não como espaço de apaziguamento de diferenças, mas justamente o contrário. Ou seja, como o espaço formado pelos atos, gestos, falas ou movimentos que abrem fissuras nas convenções e nos consensos que organizam a vida comum. Ou seja, como bem coloca o filósofo francês Jacques Rancière, política entendida como esfera do ‘desentendimento’".
O debate pode acontecer em todas as classes em que você leciona, separadamente, mas é fundamental que o que acontecer em cada uma delas seja comunicado para todos os envolvidos no projeto. Para isto, os alunos podem ser organizados como em uma assembleia, quando todos podem ter voz e um tempo determinado para defender sua posição. Para realizar os registros, a turma pode ser dividida em três, sendo que cada grupo fica responsável por anotar ideias referentes ao grafite, a pichação e a “pichação".
Após a assembleia, apresente algumas imagens que ilustrem os diferentes tipos de manifestação e pequenos textos que definam melhor cada uma delas. Todas as ideias que circularam podem ser reunidas para que possam ser compartilhadas pela comunidade: um mural no corredor, um jornal ou um fanzine.

2ª etapa
As aulas seguintes podem ter situações alternadas de apreciação, contextualização e produção. Se o projeto for proposto para diferentes séries, do 6º ao 9º ano, é importante que em cada série ganhe um tratamento didático diferente, e que haja uma progressão nos desafios colocados. Um exemplo é propor que cada série se dedique a estudar diferentes aspectos: a dimensão coletiva da manifestação, o suporte em espaços públicos, as características das marcas pessoais características etc. Esses estudos também devem ser divulgados entre as turmas, por isso é importante reservar tempo para sistematização dos conhecimentos construídos em um mural ou produção de um jornal ou fanzine.


3ª etapa
Convide todos a realizar um grafite na escola – antes disso, defina o lugar em que cada série vai trabalhar. Para sensibilizar o olhar dos alunos, vale a pena observar os lugares escolhidos por diferentes artistas para que eles tenham referências. Lance perguntas que favoreçam relacionar imagem e espaço, conforme as sugestões abaixo.

Saiba que serão necessárias pelo menos cinco aulas para que os alunos elaborem projetos, possam receber suas orientações, e participem de situações de apreciação que dialoguem com os projetos criados.
Os artistas Leonardo Delafuente (D lafuen T) e Anderson Augusto (SÃO) criaram o Projeto 6emeia e espalharam pelos bairros paulistanos da Barra Funda e do Bom Retiro vários grafites em bueiros e bocas de lobo. Os desenhos podem inspirar questões: o que mais poderia ser pintado na boca de lobo? Que outros elementos da cidade sugerem a criação de imagens e quais imagens, por exemplo, um poste, a faixa de pedestre? Veja as imagens disponíveis em:http://somentecoisaslegais.com.br/geral/49-grafites-criativos-em-bueiro-e-boca-de-lobo
Zezão olha para os elementos e questões da cidade. Questione: quais aspectos invisíveis podem ser explorados? A proposta é aprofundar a relação com os lugares, e não enfeitá-los. E nós, como podemos fazer isto?
Pode ser interessante olhar para os elementos arquitetônicos da escola como possíveis suportes para o grafite. Para isso, pergunte: de memória, quais elementos são atrativos para fazer o grafite? É muito bacana ver como os grafites dos irmãos Osgemeos se ajustam perfeitamente à arquitetura, como se os lugares dissessem “Aqui cabe uma figura humana” e... “aqui se ajusta perfeitamente uma cabeça”. Os elementos construídos se humanizam, a intervenção provoca a reflexão sobre como as pessoas se relacionam com o crescimento da cidade e espaços cada vez mais ocupado por construções. Houve transformações significativas em nosso bairro? Quais? Como poderíamos comentar estas transformações por meio de imagens? Mostre algumas imagens emhttp://www.verveweb.com.br/jornalismo/osgemeos_adrianapaiva.html.
Após a apreciação de imagens, é chegada a hora de caminhar pela escola, tanto nos espaços internos quanto nos externos, para investigar as potencialidades de cada um. É fundamental compartilhar com os alunos o propósito desta investigação: é a partir dela que vão emergir as ideias para a realização dos grafites.
Enquanto é feita a caminhada pela escola, vale fazer intervenções que provoquem os alunos a refletir sobre a relação que estabelecem com o espaço, tais como: “vamos pensar em uma palavra para este lugar?”, “que tipo de ações ocorrem aqui?”, “como nosso corpo ocupa este espaço?”, “este canto guarda alguma memória?” ou ainda, “vamos encontrar um lugar em que houve um acontecimento marcante”.
Para as áreas externas, o mesmo pode acontecer, com perguntas do tipo: “quais são as características da rua da escola?”, “quem são as pessoas que circulam por essa rua?”, “e que imagens vocês gostariam de criar neste espaço para dialogar com os passantes?”, “qual a sua relação com esta rua?”, “além do muro da escola, quais outros elementos arquitetônicos podem servir de suporte para a realização do grafite?”. Oriente os alunos a fazer registros fotográficos e por escrito para que nada se perca. Apoie a turma no momento de expor as ideias após a caminhada e também ajude a definir o projeto de cada classe.
Com estas informações planeje a aula seguinte, analisando os lugares apontados como os mais interessantes, além das primeiras ideias trazidas pelos alunos. Pense nos agrupamentos que podem ser feitos em cada série. No 6º ano, por exemplo, a proposta pode ser trabalhar coletivamente, favorecendo aprendizagens relacionadas à partilha de ideias, conhecimentos e responsabilidade de cada um.
Seguindo este raciocínio, no 7º ano, o trabalho pode ser realizado em pequenos grupos, no 8º ano em duplas, e, no 9º ano, pode ser um grande desafio que os próprios alunos definam se gostariam de realizar projetos individuais, em duplas ou em grupos – afinal, este tipo de organização é um aspecto determinante no processo de criação.
Para aprofundar os conhecimentos dos alunos, enriquecer e alimentar os projetos, leve referências. Algumas sugestões:
- Para as turmas que forem realizar trabalhos de caráter coletivo, leve referências das pinturas murais, um recorte que favorece o papel político da arte, principalmente no que diz respeito a sua função e relação com o público. A proposta prática pode estar mais relacionada aos procedimentos de pintura mural, e o principal material para fazer isto é o pincel. O projeto pode ser realizado em formato A4, em um acetato, e projetado na parede com retroprojetor. O desenho é passado para o local em que o grafite será realizado. Antes da pintura é importante fazer um estudo de cor para que todos possam participar de modo apropriado da produção. Saiba mais sobre o muralismo na Enciclopédia do Itaú Cultural.
- Se o trabalho for elaborado por pequenos grupos, vale olhar em propostas realizadas por coletivos. O JAMAC- Jardim Miriam Arte Clube pode ser uma referência boa para pensar sobre o envolvimento da comunidade e a transformação dos lugares em que vivem. Esta abordagem amplia a ideia de que fazer o grafite restringe-se a embelezar os lugares. Veja mais em:http://afonsopost.blogspot.com.br/2010/06/monica-nador-e-o-jamac.html
Para a proposta prática, os alunos podem aprender a técnica de estêncil,  ou combinar diferentes linguagens, como pintura e colagem, como na imagem ao lado, do coletivo Matilha Cultural. Veja mais em: Grafite - Coletivo Matilha Cultural - Centro/SP
- Para a turma que for trabalhar em duplas, ouvir depoimentos de grafiteiros que trabalham em dupla se organizam. Os informantes podem ser os próprios alunos, para o caso dos que já praticam este tipo de atividade, ou amigos dos alunos. Assistir a alguns vídeos para analisar o modo como os grafiteiros, pichadores e “pichadores" pensam a relação com o espaço e com a cidade pode ser bem instigante.
Titifreak, por exemplo, explora a relação entre a palavra e a imagem, favorecendo abordar as diferenças entre grafite e “pichação". http://titifreak.blogspot.com.br/
Os alunos podem criar poemas visuais, que dialogam com o grafite, com a pichação e com a “pichação" também.
- Outro possível caminho pode ser focar na institucionalização do grafite, a ampliação do circuito de arte, fazendo a seguinte pergunta: “Qual o motivo de levar o grafite, manifestação de rua e urbana, para as instituições de arte, como museus e galerias?” e “O que significa trazê-lo para dentro da escola?”
As ações podem tencionar mais as relações com a comunidade, mas tudo precisa ser feito com cautela e em comum acordo, para que essa ação não provoque uma recusa por parte da instituição de abarcar e apoiar o projeto. Afinal, a proposta é estudar arte, fazer um exercício de ação poética e política, diferente do que fazem os grafiteiros profissionais. Sobre esse assunto não faltam depoimentos na rede.
Os alunos podem trabalhar com propostas dentro e fora da escola, fazendo um grafite no muro e criando objetos e pinturas que dialoguem com outros espaços internos.

Produto Final
Se os registros foram sendo compartilhados no mural, todos os envolvidos no projeto podem organizar uma apresentação oral para a comunidade ou, se esta proposta for inviável, podem se reunir em pequenos grupos para apresentações para outras classes, para os pais, para os funcionários da escola. Para o caso do fanzine, este pode ser editado e lançado para marcar a finalização do projeto. Por fim, se o jornal foi produzido para documentar todas as etapas do processo, um último número pode ser lançado.


Avaliação
Para finalizar o projeto, é importante retomar as primeiras ideias dos alunos (aquelas que foram registradas), refletir sobre como se transformaram ao longo do processo, e concluir com uma pesquisa sobre o impacto dessas ações junto à comunidade.


Consultoria Marisa Szpigel
Coordenadora de Arte da Escola da Vila, na capital paulista.

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